Uma história constitui o meio pelo qual você transfere uma ideia para os outros e empacota-o com emoção, contexto e relevância; a habilidade que o tornará mais valioso na próxima década. Para Gallo 1 (2019:287), “contar histórias é tão necessário quanto o pão, não podemos nos imaginar sem isso porque somos uma história, consequentemente, somos todos contadores de histórias (storytellers), e quanto mais cedo a pessoa aceitar isso mais cedo poderá começar a remodelar o seu future”.
O storytelling fortalece as culturas e, mais importante, preserva a cultura para as futuras gerações na medida em que as histórias sobretudo as contadas cara-a-cara transmitem as experiências, a vida, os conhecimentos e as lições de gerações passadas permanecendo na memória por mais tempo do que qualquer palestra ou sermão.
Os storytellers influenciam uns aos outros a sonhar grande e mover montanhas, devido a profunda conexão que as histórias geram na base de confiança, de modo que o fim de uma história é o começo de outra história. Nelson Mandela inspirou o mundo com suas palavras e acções, mas sua abordagem nos discursos foi inspirada por Winston Churchil, e também pelo seu próprio pai, também este um excelente orador. Mandela era hábil na arte de persuasão porque compreendia que o caminho para a mente de alguém passava pelo coração, o seu dom como storyteller levou as pessoas a derrubarem o murro da injustiça. Por sua vez Mandela inspirou storytellers como Oprah Winfrey, Peter Guber, e Bryan Stevenson, só para citar alguns dentre os milhares de pessoas e de histórias por si influenciadas.
Segundo Abecasis2 (2025:25), um líder que não tenha uma forte componente de liderança emocional muito provavelmente pouco utilizará o storytelling, técnica esta que implica o uso de comunicação entre duas ou mais pessoas e consequente interesse de passar da melhor maneira uma mensagem para quem nos está a ouvir. O que diferencia um grande líder de um bom líder não é o seu QI (quoficiente de inteligência) nem as suas aptidões técnicas, mas a sua inteligência emocional para prever outros tipos de índices de um cariz mais humano como por exemplo: o grupo mais produtivo, ou o melhor membro de uma equipe, ou ainda dentre os membros de uma equipe aquele o que possui as características mais indicadas para ser líder.
Para um líder ser detentor de inteligência emocional deve conseguir agrupar pelo menos quatro elementos fundamentais – autoconsciência, autogestão, empatia e competência social – que lhe permitam exercer eficazmente as suas funções junto dos seus seguidores. De seguida, iremos acompanhar de que forma cada um desses elementos desenvolvem a inteligência emocional no líder, e como ele incorpora isso na sua arte de contar histórias para uma comunicação efectiva.
Um indivíduo só estará apto a conhecer as emoções dos outros se tiver autoconsciência, se conhecer as suas próprias emoções, e assim perceber de que forma os seus sentimentos e emoções afectam a si e aos outros, e de que forma isso influencia o desempenho dos outros. A
1 Gallo, Carmine (2019), Storytelling, Alta Books, Rio de Janeiro
2 Abecasis, Francisco (2015), Liderança e Storytelling: o poder das histórias no contexto da liderança organizacional
autoconsciência no líder é assim importante para o storytelling porque as histórias transmitem emoções de forma eficaz e persuasiva para inspirar aos liderados a agirem.
A segunda competência da inteligência emocional é a autogestão, enquanto uma conversa interior contínua que provoca mudanças de humor, onde o líder encontra formas de controlar essas mudanças e até mesmo de canalizá-las de forma útil para crar um ambiente tranquilo e de confiança essencial para a eficácia no acto de contar histórias (storytteling), sabendo que o storytelling está dependente de factores externos à comunicação do líder. Um traço pertencente da autogestão é a motivação que desenvolve a capacidade de adaptação, e resistência a ambientes adversos, e o optimismo para superar barreiras e expectativas conduzindo assim a ele, a equipe, e à organização a atingirem mais facilmente objectivos ambiciosos.
Quanto a empatia, a terceira competência, o líder ao pôr em prática o storytelling na construção de uma história deve ter em conta que todos os ouvintes são diferentes na maneira de pensar, compreender e agir, e ao líder reserve-se o papel de um maestro (agregador). Na sua comunicação com os outros através do storytelling, o líder deve demonstrar uma compreensão emocional procurando compreender o problema através do ponto de vista dos outros, associado ao respeito em aceitar e reconhecer o outro como pessoa; seguido da autenticidade em ser honesto e realista, dar a sua opinião sem hipocrisia, e também da auto-exposição aos outros sobre as suas próprias perspectivas e experiências pessoais, e uma resolução em identificar os sentimentos expressos por outros.
O quarto e último elemento de inteligência emocional é a competência social de o líder gerir a seu relacionamento com os outros de forma a levar o grupo a fazer devidamente e com ambição àquilo que é pretendido pelo líder, conduzindo-os ao objetivo. Nenhum líder é uma ilha, ele sabe que não chega aos objectivos sozinho, está dependente da sua equipe, e dos seguidores. Storytelling é assim um processo de comunicação intencional que utiliza princípios inerentes às histórias para exercer com êxito um poder transformador no receptor/audiência, tornando as mensagens mais claras através do conto de uma história ou episódio, de preferência real, ajudando a desbloquear desentendimento entre duas ou mais pessoas. As histórias transmitem emoções de forma eficaz e persuasiva que inspiram a agir. As histórias são concretas e têm a capacidade de nos transportar para um lugar no tempo onde, através da nossa imaginação, podemos construir uma imagem na nossa mente tornando-a memorável. As histórias também, por envolverem os indivíduos, convida-os para uma participação activa na conversa ao contrário de uma discussão com simples apresentação dos factos.
Contudo, não obstante o acto de contar histórias crescer conosco, não podemos assumir que seja algo que não tenha ciência pelo menos no contexto organizacional onde uma mensagem estratégica deve ser sempre devidamente pensada e planeada com objectivos claros de sua transmissão. Para o uso deste técnica, o líder deve adaptar a sua comunicação (ou história) aos diferentes ambientes e situações específicas, e saber escolher que histórias contar, como contar e quais as especificidades que deve utilizar em cada situação.
Jesus era chamado de Mestre pelos seus discípulos porque reconheciam a sua autoridade para ensinar as coisas. Como um Mestre intuitiva, respeitava a bagagem cultural e social das pessoas, e porque os seus ouvintes eram na sua maioria adultos usava a metodologia andragógica. A partir de uma linguagem simples e exemplos práticos baseados no quotidiano e no conhecimento prévio dos ouvintes, apresentava os seus ensinamentos conducentes à mudança de valores e de princípios. Variaos recursos pedagógicos recorreu, desde o método de perguntas como na evangelização da mulher samaritana no poço de Jacob, ao método audio-visual empregue em Mateus quando disse “olhai para os lírios do campo” e “olhai para as aves dos céus”, até ao método da prelecção aos
discípulos a caminho do Jardim das Oliveiras, segundo o Blog da ABMES3.
Sem dúvidas o método mais usado pelo Mestre foi o de histórias ou parábolas, com as quais expunha verdades complexas de um modo simples aludindo a coisas concretas, que apelam à imaginação de um modo fácil, interessante e eficiente, um moderno storytelling com o poder de levar os seus ouvintes à acção.
António Sendi
Mestre e Evangelista, Teólogo, Coach de Liderança, Coach Espiritual, Leader Coach, Fundador da Academia de Liderança Servant Leadership, e Autor sobre Liderança