Irreverência como um distinto traço deliderança

Tombou um líder, eternizou-se uma causa.

Eu, como muitos outros concidadãos ficamos consternados pela notícia do desaparecimento físico de Edson da Luz, mais conhecido no meio artístico como Azagaia, um activista social moçambicano, líder nato pela ousadia e coragem de quem carrega uma cruz, dizia uma causa como poucos o fazem pelos qualidade e quantidade de recursos (logística) que exigem, designadamente a energia, tempo e
paixão que tem como custo o desgaste emocional e metal, risco adversos, má compreensão enfim, poucos estão disponíveis para atravessarem desertos espirituais e fazerem dessa prática um modus vivendus.

Até podemos inciar esta nossa reflexão com o significado literal do seu nome artístico “azagaia”, que segundo a enciclopedia livre “é uma lança curta e delgada usada como arma de arremeso por povos ou indivíduos caçadores”; em sentido amplo, acabou por empregar-se para caracterizar lanças de arremesso rudimentares, usadas por culturas pré-históricas europeias, como dos povos africanos.

A nossa toponomia torna-se mais completa quando trazemos à colação o seu sobrenome Luz, que fora precisamente o primeiro acto da Criação de Deus, quando pelo poder de Sua Palavra chama à existência a luz para que o resto da Criação nos sete dias seguintes pudessem ser contempladas, reflectindo assim a bondade de Deus, pois tudo que Deus criou revela esse Seu atributo. E também vale a pena referir que luz é uma das designações de Deus, tanto que o próprio Cristo definiuse como sendo a luz do mundo.

Eu, pessoalmente, nunca conheci o Azagaia de perto, nunca assisti um único concerto dele, nem nunca estive ainda que num curto espaço de tempo num mesmo espaço físico, por coincidência ou não, mas sempre o senti-o em espírito porque ele era muito expressivo, fazia-se vivo e relevante. Mais uma vez vem algum sentimento de culpa e de indulgência em simultâneo pela minha “fraqueza desculpável” em não ter pressa de esperar pelo momento certo, para expressar de coração aberto a minha admiração por este líder.

Falando em comunicação, talvez fosse a principal arma que ele usou para exteriorizar o seu âmago, arremesar as lanças da sua “azagaia” ou lanças de fogo, constitui um interessante exercício de liderança apreciar a parceria entre a comunicação e a liderança, que resulta numa forte conexão sempre que a transmissão da mensagem seja clara e simples; ajuntando-se a isso, tem o poder da comunicação, a autoridade com que o líder transmite a sua mensagem falando não só para a cabeça mas principalmente para o coração dos liderados, tal era a chama que o seu interior ebulia fervorosa e continuamente, até que a sua partida desta para outra é uma evidência de missão cumprida.

Gostaria de eternizar, em homenagem a este grande líder moçambicano e referência para a geração actual e vindouras, as principais virtudes de Azagaia, inspirado no artigo “Os 12 Maiores Atributos da Liderança1 ”. Atributos são as particularidades, qualidades e características que são próprias de alguém ou algo.

1In https://www.anthropos.com.br/artigos-do-prof-marins-e-textos-dos-programasde-tv/os-12-maiores-atributos-da-lideranca/

Por norma, os atributos estão relacionados com aspectos positivos. Os atributos costumam ser características exclusivas de determinada pessoa, grupo ou coisa.

Se o primeiro atributo é intrigante pela forma como rompe para um dos rostos ou espíritos mais visíveis de Azagaia que é (1) disposição para tentar o que não foi tentado antes, o segundo (2) automotivação que o combustível para o seu combate em busca do terceiro, (3) uma percepção aguda do que é justo, tal sentido de justiça que se evidenciava pela forma como organizava e estruturava o seu trabalho pelo quarto atributo (4) planos definidos.

A perseverança nas deciões devidamente ponderadas, como sendo o quinto atributo, conferiu-lhe o (6) hábito de fazer mais do que aquilo pelo qual é pago, através de um ofício que o mercado pouco valoriza e que no seu caso era uma vocação e não simples profissão. A sua (7) personalidade positiva de quem levantava a bandeira de uma causa para muitos impossível, demonstrava tamanha (8) empatia com os sentimentos e problemas da sociedade, onde ele aprendia a linguagem do povo de forma a poder articular o (9) domínio dos detalhes da forma como ele fazia através da sua arte com um alto nível de execução.

A sua (10) disposição para assumir plena responsabilidade pelos riscos decorrentes de erguer uma voz, ser um porta-voz dos oprimidos, tinha como recompensa a (11) duplicação de carácter na missão de repartir e replicar o espírito de liderança que recebeu, como um vector ou a “azagaia” que apontava para uma causa nobre alicerçada numa (12) profunda crença em seus princípios que, em princípio, são inegociáveis ou inflexíveis.

E, para terminar o “download”, autoreflexao, ou meditação com caneta à mão e papel na mesa, enquanto tomava um sorvete, fui surpreso nesta manhã quando estava para iniciar o último dos cinco dias de formação dirigida a jovens empreendedores, um dia após a morte de Azagaia; e antes da aula iniciar um deles questiona-me: pode o Azagaia ser considerado um revolucionário? E, em acto
sucessivo, o mesmo pediu que observássemos um minuto de silêncio em respeito a alma Azagaia antes de iniciarmos a aula. No mesmo dia, outro estudante ensinoume que questionar é uma forma de consolidar o aprendizado: povo no poder!

Prontos, soltei o meu grito de euforia!

António Sendi

Servo, Coach de Liderança, Coach Espiritual, Fundador da Academia de Liderança
Servant Leadership, e Autor

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